domingo, 29 de março de 2009

andar de carro, à chuva musical

Porque sou o 'cavaleiro andante'
que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou...

[Cavaleiro Andante - eterno Rui Veloso]

quinta-feira, 26 de março de 2009

é isto que se faz quando não há clientes para atender

os nossos olhares dançam
ao longe
e o mundo pára de repente
neste repente
só nosso

e é então que te sinto
longe
quebrado
tudo porque eu
eu
esqueci as horas adormecidas
no teu dorso
te esqueci capaz de me fazeres sonhar
acordada
enquanto a música soava
e os nossos corpos dançavam
ao perto.


[25.03.09]

quarta-feira, 25 de março de 2009

tirar o monstro das costas






















saudades de ter certeza que as certezas não existem.
saudades de lamentar sabendo que nada se lamenta.
(...)
é este dar sem receber
entregar e perder
que me faz sempre voltar.

*

[algures em dezembro de 2008]

segunda-feira, 23 de março de 2009

lamento, mas não consigo parar de chorar

[...]

o SONHO agarra-se ao sarro das velas e
a alba fustiga os vidros da janela onde
encostei a cara PARA CHORAR como as glicínias
regresso ao cais regresso
com este LAMENTO AO LEME OS PULSOS CANSADOS
pelo brilho cortante do sal aceso no vento que
transporta
e agita as silentes sombras de FERAS LONGÍNQUAS
e perfura o sono e a gestação fantástica dos lírios

magoadas águas
reflectindo CICATRIZES LANCINANTES de néons
o cais por fim o cais onde desembarcamos e
DE NOSSOS CORPOS NÃO NOS LEMBRAREMOS MAIS.


Al Berto, de «Alguns Poemas da Rua do Forte» - 1983

domingo, 22 de março de 2009

it's a cold and it's a broken hallelujah

É tudo um extenso areal
de cadáveres desconhecidos
que dançam
ao ritmo da música de outrora.
Não mais sei mover meus pés
ao ritmo deles.

Para quê ter medo de morrer?
Se são os mortos que no fundo dançam
e sentem
e sangram
a paixão da noite...
Se são eles que uivam
no enlace das memórias
e roubam das estrelas
o futuro que já aconteceu...

Que mundo este
em que os mortos vivem mais
do que os vivos que morrem...!

sábado, 21 de março de 2009

tudo só mais um fado

Se és vida
Nunca vivi.

Se és amor
Nunca te amei.



É tudo tão mais simples se não pensarmos.
Tão mais simples se nos deixarmos levar
e tivermos de pensar simplesmente porque faz parte do ciclo corrente das coisas,
e não porque sofremos por antecipação.

Acreditar.
É só isso que falta.


quinta-feira, 19 de março de 2009

qualquer coisa que não volta, que voou

estou ausente.

pior do que estar ausente dos outros, é estar ausente de mim.
é não saber em que porto seguro atracar, quando temos toda uma praia disposta a receber-nos, deitados no areal, o corpo vivamente morto.


são tantas as razões, que é cansativo nomeá-las e perco-me no facto de 'não ser'.
relembro as alturas em que um abraço resolvia tudo, em que chorar resolvia tudo.
hoje, um abraço complica mais e um choro inicia novos desafios, nesta roda viva de não saber mais como se fugir.


estou tão louca que já nem pra mim faço sentido e tenho medo de adormecer e não saber mais acordar, por não ter razões.
medo de morrer, não fisicamente, mas de morrer para mim, morrer para o sentido das coisas e a vida comum que nos espera, morrer para o palpitar da cidade às cinco da manhã numa rotunda. morrer para o nevoeiro que se instala, para o frio que nos percorre, para as conversas que se tem e se perde e já não se lembra - mas que ajudam. morrer para as frases que ficam na memória, para as mãos que se dão e seguram lágrimas, para o poder de uma roupa, para o poder de uma tarde num restaurante de fast food. morrer para o poder de um fado, para o força que uma fonte pode ter, morrer para um sorriso, morrer para uma lágrima. morrer para os opostos e para as certezas que só têm força por as julgarmos tão incertas. morrer para os cafés, para o mundo branco e baço e tresloucado, morrer para os Lusíadas, morrer para o sabor de um iogurte. morrer para as galinhas e os pius e toda a vida que se encerra nas pedras que choram. tenho medo de morrer.



morrer para o facto de chegar a casa e não saber dormir.
estou ausente de mim e preciso de paz.
mas quanto mais preciso, menos a quero.
e toda esta electricidade que me percorre, faz-me tão mal que me faz bem.








o teu bem faz-me tão mal


o teu mal faz-me tão bem











e agora vou dormir, se me dão licença.
que amanhã tenho outro dia para não-viver, vivendo.

sábado, 14 de março de 2009

sexta feira 13

Quando não sabemos para onde ir, a melhor coisa do mundo é deixarmo-nos perder.

Há sempre alguém que está cansado e não lhe apetece divertir. Há sempre alguém que tem de ir embora. Há sempre quem tenha alegria para dar a todos os outros que não sabem onde enfiaram a sua.
Depois acontecem as coincidências. Há sempre alguém que conhece aquela pessoa de quem evitamos falar. Há sempre um desconhecido que tem algo em comum com a historia de vida de um qualqer conhecido. Há alcool e gargalhadas e 19 anos. Há pontes e cidades e rios. Há carros e solavancos. Há sempre quem se sinta mal. Há quem pergunte as horas e ouça uma resposta do tipo 'é de noite'. Há panikes e pizzas e um barman jeitoso que nos prepara uma vodka. Há homens que criticam mulheres produzidas. E mulheres que criticam homens que não se produzem.
Há autocarros para apanhar. E autocarros que se perdem.
E porque perdemos alguma coisa, encontramos logo outra. E há quem nos encontre também.
E depois há música. E vivências. E uma noite inesquecível, de tão imprevisivelmente sortuda.




quinta-feira, 12 de março de 2009

blargh

Here I am, I'm so young
I know I've been bitter, I've been jaded, I'm alone.


*
a certeza da incerteza faz-me continuar. nesta pulsação parada do que não é, sinto.te comigo. porque sei que as horas desmaiaram, quando fui eu quem empalideceu. porque sei que as horas quebraram, quando fui eu que parei. existir.

só faz sentido quando é a teu lado, neste completa ausência de sentido que me embrulha.

vive por mim.
vive em mim.

terça-feira, 10 de março de 2009

desfocado

É em dias como o de hoje que compreendo a expressão 'o corpo é que paga'.
Porque se a alma já aguenta pouco, o corpo aguenta muito menos.

E é tão bom crescer.

Obrigado por continuarem a não-saber, a meu lado.

*

sábado, 7 de março de 2009

one song to another

Here's the day we hope to never come
Don't feed me violence,
just run with me through roads of speeding cars
All I know is that you're so nice
You're the nicest thing I've seen
But I'm loving angels instead
Am I losing heart? Have I frozen in?
Am I pushing too hard? Have I started to forget?

I wanna show you everything inside of me
like a nervous heart that is crazy beating
And when I kiss you soul, your body'll be free
I'm gonna love you more than anyone
That's why I've been missing you lately
'Cause you make it real for me.
Be my friend, hold me
Wrap me up... Unfold me...
I am small and needy
And all really want from you is to feel me
As the feeling inside keeps building
Lover you should've come over
'cause it's not too late
If it's a broken part, replace it
If it's a broken heart, then face it
I am strong when I am on your shoulders
You raise me up to more than I can be

These days we go to waste like wine
And what a beautiful mess this is
It's like picking up trash in dresses
If I ever hurt you your revenge would be so sweet
because I'm scum
Nobody said it was easy...
Nobody said it would be so hard.

I dont' understand your heart
It's easier to be apart
Don't explain...
You are my joy and you're my pain
I'll be there as soon as I can
but I'm busy mending broken pieces
of the live I've had before
There's hope for the hopeless
But I'm warning you: we're growing up.



[partes de canções, juntas para doer mais]

corpo inteiro


Para mim o
amor
fica-me justo

Eu só visto
a paixão
de corpo inteiro


>Maria Teresa Horta
in Só de Amor

quinta-feira, 5 de março de 2009

necessário, somente o necessário

Valor.
Mais do que notas pousadas numa mesa, ou cartões de crédito quebrados no caixote do lixo, tens valor.
Ocupas um lugar no pedestal reservado aos idílicos, porque sei que nunca serás meu. Serás de facto de alguém? Alguém terá o prazer, a honra, o prodígio, de te berrar um amo-te sufocado de desejo, de te arrancar a alma com o sussurro de um beijo alado? Gostava de ser essa pessoa, de ter esse valor, de ser essa mulher.
Gostava de ser o primeiro número na lista dos 'recentemente utilizados' teu telemóvel. Gostava que acordasses com o meu nome no paladar. Gostava que fosses o reflexo das manhãs, espelhado nos 'bons dias', um sorriso de orelha a orelha na chávena de café. Gostava que fosses o meu almoço, baixo em calorias, recheado de prazer, sem argumentos, discussões, vitórias parvas de boémices. Gostava de viajar contigo sem sair do sitio, deitados com o corpo próximo no sofá da tua sala, o gato parado à entrada da porta, a ouvir-nos miar. Gostava que me levasses a casa ao fim da tarde, bailando de mota no trânsito frenético. Gostava de ser o teu jantar, rico em calorias e prazer, porque se andas no ginásio é para alguma coisa.
No fundo, gostava de ser a ultima pessoa a quem dirias boa noite, mesmo quando não dormisses em mim. Gostava de ser tua, gostava que me desses valor. Gostava que me desses um quarto do valor que tens pra mim. Que realmente pensasses 'será?' antes de adormecer, e acordasses com a certeza de que 'é'.
E pronto, amavamo-nos. Parece simples, não? Mais do que notas pousadas numa mesa ou cartões de crédito quebrados no caixote do lixo.

quarta-feira, 4 de março de 2009

momentos de son(h)o

Queria acima de tudo saber como vim aqui parar.
Saber por que moro neste quarto, por que respiro esta vida, por que palpito esta dor.
Queria acima de tudo saber porque é que estou .
Saber por que te afasto e me afasto, por que te aproximo e me aproximo, porque fujo e tu não foges.

Queria acima de tudo aprender a lidar comigo, para depois saber como lidar com os outros.
Nem eu sei por que é que choro, como é que vos posso esclarecer esse dilema? Nem eu sei o valor de um sorriso, quanto mais a sua sonoridade...!
Não me conheço, porque a cada momento desvaneço. Recrio-me em cada mudança, aprendo a cada circunstância. E vou adiando a pesquisa ao eu de mim, com a desculpa de que tudo muda.
Queria acima de tudo saber que não há desculpas nem coincidências nem promessas.
Saber que somos filhos do infortúnio destino mentiroso.

Um dia sentei-me nas pedras e senti o sol.
Pude jurar que era o primeiro dia do resto da minha vida. Mas não são todos?

*

domingo, 1 de março de 2009

metodologia dos estudos da esperança II

como é que se começa o segundo semestre?
a assimilar o que o professor diz e a transformá-lo num texto sem sentido. niiiiiice.



Imortal?
Uma música comercial tem (regularmente) 120 batidas por minuto. E um ser humano?
Os batimentos do nosso pulso variam. Dependem

do estado emocional
da intensidade?
da entrega?

da idade
da maturidade?
da experiência?

do sexo
mulheres?
homens?
frequência do acto?


A própria razão é uma paixão, transformando-se no nosso próprio batimento cardíaco. O pulso de um bebé tem aproximadamente 120 batidas por minuto. Um bebé é música. A música é a regressão à batida perdida.

No acto de sentir reside tudo o resto;
estado
idade
sexo

O que nos dá vitalidade é a alternância entre um pulsar forte e um pulsar fraco
PUM pum PUM pum

Vivemos do ritmo.
A chuva ritmando o nosso passo, na cidade.
O passo ritmando o batimento cardíaco.
O batimento ritmando o Ser.

Não vamos reflectir sobre melancolia ou vastidão do espaço. Vamos aproveitar os segundos ao sol, na varanda da nossa juventude. A noite à chuva, quando a esperança de vida era menor e milhões de pessoas morriam daquilo que não nos mata.

'De morte natural nunca ninguém morreu'
A morte é um acidente.
PUM pum PUM pum

*