quarta-feira, 31 de março de 2010

v.i.c.i.a.d.a.

palavras sábias

Rui Pires Cabral

"(...)
o pensamento um carrossel
de monstros vivos. E nós os únicos,

os mais sós, os mais relapsos
no caminho que descia do devaneio

à angústia. Esquecidos das horas
num qualquer degrau perdido,

o futuro era aterrador: it will end
in tears. E tudo o que sabíamos

estava errado, menos isso. "




às vezes quando não sabemos o que dizer, encontramos nos outros as palavras que tudo dizem.
tempo de mudança. armas na mão, braços bem altos, e lutar. lutar pelo ideal. and it will not end in tears. *

terça-feira, 30 de março de 2010

if you want me to stop, I freeze.


Eu devia ter cuidado com o que digo. Tapar a boca de vez em quando, lembrar-me de que as vezes pensar alto implica que alguém de facto pode ouvir o que nos vai pela cabeça.
Eu devia ter cuidado com o que penso. Serrar ao meio os sonhos pueris, ceder passagem a vontades guerreiras de elevar montanhas.
Eu devia ter cuidado com o que faço. Atar as mãos atrás das costas, recuar com o pézinho antes sequer de pensar em subir mais um degrau.

Nunca se está preparado para algo.
Nunca é a altura certa para algo.

Tenho o coração pousado na cabeceira; ao lado, o cérebro dentro de um copo com água; a alma debaixo da cama, a rebolar por entre o cotão; o corpo, inerte, acabou de acordar, depois de anos adormecido. Para onde foi a experiência?

Os sweet nineteen trouxeram a depressão pré-vinte. Bem que me tinham avisado que doía escrever com um 2. Não quis acreditar que um ano pudesse pesar no centro do corpo, e que os sonhos pudessem morrer a uma maior velocidade á medida que o tempo passa.

Nunca se está preparado para algo.
Nunca é altura certa para algo.

Mas também nunca podemos deixar de fazer o que quer que seja, só por causa disso.

domingo, 28 de março de 2010

uti, non abuti*

Fugir. Largar as malas, carregadas com artilharias de corações despedaçados e memórias de enlaces, e fugir. Não olhar sequer para trás á medida que nos afastamos. Deixar que o corpo nos guie pelo mundo fora, na pequena estrada que é a vida que levamos. Pequena grande estrada.
Estranho como o grande, enorme, mundo é tão pequeno. Como o tempo muda as circunstâncias, como as pessoas conhecem outras pessoas, como conhecem as mesmas pessoas que nós outrora conhecemos, tão diferentes. Caramba.
Há amigos que guardamos para sempre e amigos que se esquecem do que é o sempre.
Há inimigos que queremos esquecer e estão sempre lá, mais perto do que os amigos, como é sábio que os queiramos, perto.
Fugir. Largar as malas e simplesmente fugir. Sem passado, com algum futuro....
Agarrados ao presente que conseguimos prender em nós, colado ao corpo. Mas é importante que quando este presente se tornar passado, o saibamos também abandonar, antes de iniciar viagem.


*usar, mas não abusar.

sábado, 20 de março de 2010

está a chover tanto lá fora.





[I ain't lost, just wandering]

quinta-feira, 18 de março de 2010

make you feel my love

Apetece-me rasgar a poesia da cidade, hoje. Agarrar-te pelo braço e mostrar-te que este corpo de porcelana não quebra, por mais que o percorras, endoidecido. Trocar os dias pelas noites e beber das horas a calmaria doente dos imortais.
Apetece-me rasgar a melodia da chuva, hoje. Beijar-te os poros corrompidos e jurar-te que nada é mais do que isto, tão puro como a gota de chuva que chora na minha face. Não sei. Gostava de saber dizer-te o amanhã com as mesmas certezas com que te conto o ontem, mas já nem o hoje é certo para quem o vive.
Apetece-me rasgar as luzes dos carros, esculpir outras nuvens, outros passeios. Alterar o céu e terra e conjugar um novo limbo. Limbo.
Apetece-me ter-te hoje porque sei que não te terei. Porque o mundo está de olhos abertos e está demasiado silêncio nesta sala. Porque sou tu e tu és eu, e nunca somos nós. Porque não sei como te dar a mão nesta encruzilhada, porque não sei onde te procurar, se te perder.
Apetece-me desenhar-te, diferente, mais meu. Entregar-te a poesia nas veias, de bandeja, para não teres de suar até que ela seja tua. Apetece-me dar-te tudo. E depois... depois fugir.

quinta-feira, 11 de março de 2010


pé ante pé

no escuro

tal e qual pantera

no florescer caótico da primavera

corre no vento a noite

em que serei tua...

esculpes nas estrelas

o meu corpo, toda nua

bebendo das noites

um calor sem fim

trago no regaço o melhor de mim

e devolvo aos rios

o segredo sussurrante

do caminho do teu corpo

onde me envolvo, errante

e bebo a verdade

dos teus lábios fugidios.


*
[8.03.2010]

quarta-feira, 10 de março de 2010

onze meses

Menti-te.
Quando enrolei as minhas pernas à volta das tuas, menti-te.
Não fiz juras infundadas, mas um bom mentiroso nunca tem sequer de falar. Prendi as minhas pernas às tuas, puxei-te num abraço, e quando dei por mim, entre suspiros, já eramos um do outro e havia um futuro prometido.
Nunca fui boa a fazer contas de cabeça, mas um futuro é de certeza muito tempo. Menti-te.
Só queria um presente, um instante repetido, um momento congelado que pudesse reviver incessantemente de formas variáveis.
Quiseste abraçar-me para sempre e eu não deixei.
Uma noite, quieto, vieste sorrateiro dizer-me ao ouvido que me querias guardar no bolso. Sempre me assustei com pessoas que guardam coisas nos bolsos, como aqueles homens de casacos pesados, com a vida atracada. Eu. Nos bolsos. Nos teus bolsos. Atracada. Sempre achei que os bolsos só serviam para aquecer as mãos... ou guardar coisas por breves momentos, nunca com o seu quê de eternidade.
Quiseste dar-me a conhecer a eternidade e eu não quis; não estava preparada para um final feliz, porque nunca tinha tido um início.
Só queria deitar-me contigo numa passadeira, a sentir o cheiro da cidade e a pulsar com o barulho da autoestrada. Devia ter percebido logo que não eras homem de autoestradas. Querias-me para sempre e eu menti-te.
Trocaste-me o nome, uma noite. Bem sei que foram breves segundos de engano, e que a meia hora seguinte foi passada a ouvir pedidos de desculpa e lamentos teus, mas segundos de engano são suficientes para uma vida de certezas. Trocaste-me o nome, mas foste sincero; ao contrário de mim, víbora, crápula. Nunca conheci mulher tão vítima e culpada como eu. Menti-te.
Nessa noite virei costas e adormeci sem entrançar as minhas pernas nas tuas. Eram só mais umas pernas, era só mais uma cama... Ficamos momentos em silêncio depois de me teres chamado o nome da outra vagabunda que te partiu o coração, e pensei se isso não seria um prenuncio de que eu também to partiria. Tinhas-te enganado por questões de logistica, mas para mim era o fim do mundo, do nosso.
Quiseste abraçar-me para sempre, mas aquela noite foi a última.
Na manhã seguinte deixaste-me na faculdade, foste trabalhar. Menti-te uma última vez quando disse que ia tentar. Não tentei sequer tentar.
Risquei-te da minha vida como os senhores dos cafés fazem aos gelados esgotados nos cartazes, e não hesitei em rotular-me novamente como solteira.
Foda-se, é tão mais fácil ser infeliz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

arroz

Não sei o que se passa.
Só sei que não consigo mais, não consigo. Morreu a parte que te amava, morreu.
Desprendeu-se do tempo e ficou a vaguear, meses a fio, sem perceber que a sombra do que fomos há muito nos abandonou. Já não te amo. Guardo no bolso as memórias, quiçá a ti. Guardo no bolso os momentos, o sangue vibrante, a voz rouca. Morreu a parte que te amava, morreu.
Adormeceu nas horas o sentimento e acordei hoje a saber que ele já lá não estava.
Guardo na alma o azul imenso, o sal das lágrimas, do rio. Guardo no bolso a mancha vibrante do infinito que nos esperava, o conhecimento, pedra filosofal dos românticos de negro.
Para onde foi? Morreu a parte que te amava, morreu.
Para onde foi a vontade, a garra, o caracter? Para onde foi a arrogância extrema de nos sabermos maiores, tão capazes de mudar o mundo, criando um nosso?

Morreu a parte que te amava, morreu.
A mim, corpo frio, cadáver esquecido no ontem, só me resta ressuscitar-te.
E lutar por ti até que o sangue vibrante, a voz rouca, o azul imenso, o sal das lágrimas, do rio, a mancha vibrante, o conhecimento, a vontade, a garra, o caracter, a arrogãncia... a mudança...! a mim só me resta lutar por ti até que tudo isso volte. E que a parte que te amava, te ame agora, num todo.


Ad Eternum
2008.2009

sábado, 6 de março de 2010

um daqueles sábados em que só apetece sentar no sofá
com uma manta e um pacote de bolachas e devorar a televisão por inteiro.
ah, esqueçam. todos os sábados me apetece fazer isso.
:)

quinta-feira, 4 de março de 2010

.sem título?.


vem dar vida
ao que ja foi o 'eu'
sentir berrar um corpo
que não conheço como meu
resgatar-me da morte
dos amores por vir
deixar-me ficar
e no entanto partir
corromper a pele
sedosa, áspera, torta
beijar-te a alma
fria, quase morta
plantar suspiros
doçuras por haver
e sentirás os tiros
balas, doces feridas
fortes calafrios
noites desprendidas
vem neste corpo inexistir
vibrar nesta mulher


segunda-feira, 1 de março de 2010

finding neverland

And my affecction... well.. it comes and goes.
I need direction to perfection...
You know you got to help me out.


As pessoas, além de serem feitas de pessoas, são feitas de fases. No fundo os sentimentos são como boomerangs: vão e vêm, esquecem-se e permanecem... e trazem ao de cima, à superfície do ser, aquilo que julgavamos não existir em nós.
Começo a ficar farta. Farta. De ser importunada, de ser remexida. Como um armário desarrumado que a Barbie abre todas as manhãs e de onde tira mil e uma peças de roupa, experimenta combinações, e acaba por levar o 'same old suit', deixando tudo o resto varrido a furacões. Farta.

E a isto, meus caros, chama-se 'uma fase'.
Há várias fases na vida das pessoas. A fase em que acreditamos que não existem más pessoas, existem más escolhas. A fase em que acreditamos que não podíamos ser mais felizes, ainda que de facto, nunca ninguém tenha medido os limites da felicidade. A fase em que choramos, porque 'não merecemos'. A fase em que acreditamos que é tudo uma questão de mau timing. A fase em que acreditamos que podemos mudar as pessoas, inverter situações. A fase em que aprendemos que nem nós nos conseguimos mudar a nós próprios.
E depois há esta fase, esta; a fase da menina que não tem paciência, que não dá luta, que simplesmente abandona uma causa por a julgar perdida. A fase da menina que ouve, cala, fala - mas não berra - e que acena com a cabeça antes de virar costas para não mais lembrar.

Tenho free-pass para a Terra do Nunca meus caros, e acreditem que é dos sítios que mais visito.
A sério.