sábado, 30 de maio de 2009

(re)ciclar

Como é que se endireita a vida e se recomeça o que nunca acabou?
Andei meses acelerada e agora ando há meses adormecida. Disse para mim mesma, vezes sem conta, que precisava de parar e agora que estou parada, morri aos poucos e não sei onde foi o funeral.
Acho que preciso de ir à praia ver o mar.
E dormir, preciso sempre de dormir.


[o poema do post anterior foi inspirado aqui]
*

quarta-feira, 27 de maio de 2009

vinho do porto

licor abençoado
rubi d'ouro alado
nas águas do teu rio
me encontro embriagado
noites, madrugadas
garrafas por quebrar
ruas por viver
sonhos por achar
Portos penetrantes
saudações bramantes
me envolvo em teu calor
por um maior amor
e descubro
nos trilhos da cidade
um vinho de maior idade
é louco, espesso, uivante
puro enganador
afectuoso amante
num abraço enlouquece
pra me dar guarida
oh vem pra me levar
por noites dessa vida...!

coisas antigas, memórias constantes






[...]

Mas depois sei que me arrependerei das borboletas. Quando me imagino a beijá-lo a borboleta esvoaça, quando penso que não resultará a borboleta morre - e eu morro com ela...
Nesse mundo de fantasia que são as folhas em branco.
[2005]



domingo, 24 de maio de 2009

eu não sei o que se passa

Apetece-me quebrar barreiras hoje. Chocolate ('derretido...nham nham').
Colorir as paredes do tecto da juventude com as incertezas da maioridade.
Quero ser mais eu.
As ruas da cidade clamam o nome que outrora me definia: menina.
E nas paredes do tribunal ecoa a minha sentença: adoração perpétua a um amor que não POSSUO, necessidade imprópria de conquista do que não almejo.
Quero ser menos eu.
Espelhada nas estrelas, a certeza de um futuro: vais ser feliz, disse ela.
Mas ela era infeliz por natureza natural, verdade alada dos céus bramantes.
Qual lírio, rosa, camélia, violeta? Qual sol, céu, chão, armário de arvores guardadoras de corações?
Raízes de uma terra que não a minha, pátria de vivências que desconheço.
Moro no Porto, caminho nas ruas tortas da ribeira e choro o pranto deste rio tecido à luz das casas mortas. Fui parida à luz do luar, quando a preguiça ditou que nasceria uma princesa.
Hoje, apetece-me quebrar barreiras.
Talvez porque tenha percebido que o que faço não é produto do que desejo fazer, simplesmente porque não tenho qualquer desejo.
Perdi-me. Deixei o mapa contigo e agora que te foste, perdi-me.
À boleia de um carro desconhecido reflicto o que faço nesta vida, e sinto-me uma fada sem propósito. Pobre de mim, imaculada pura, desgraçada inversa.
Queria tanto trazer no peito qualquer coisa, ao invés de um peito maduro, macio, VAZIO.
No cheiro de um pescoço abandonado, as carícias de noites que guardei. E tu, lá, quieto, complacente. Lago marejado de dias por volver.
Quero-te de volta, para não mais te ter.
Nunca soube trazer as pessoas no bolso, por nunca ter tido roupas com bolsos espaçosos.
Passeio (alegre), nessas fontes mergulho a inveja das vossas vidas.
Coisas fáceis, mesquinhas. Não quero.
No fundo já me habituei à infelicidade dos dramas. Gosto de protagonismo.
Nasci no Porto, quero morrer aqui - e ser lápide dos sonhos que não concretizei, por padecer de doenças incuráveis.
Gostava de ser poeta e de ter uma estátua, só para poder imaginar que a minha alma teria outro corpo onde poisar, quando saísse de mim.
Gostava de escrever coisas curtas com sentido, ao invés de cortar sem sentido coisas grandes.
Nunca tive grande jeito para desabafar, mas no fundo é a mesma raiva dormente, nos pés frios da tijoleira: quero mudar o imutável e acordar amanhã, morta, a viver um novo ar.
A lista telefónica aos pés da cama, o toque abafado do telefone e a voz do outro lado 'olá boa tarde, fala do Paraíso?'.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

em todas as ruas do amor

~


'são emoções que dão vida à saudade que trago...'

e à pessoa que sou.

nem sempre [nem nunca]

se sou noite, és luz para ela.
se sou dia, és o luar.


quando não sabemos para onde sguir
mais vale parar, saborear o sol, 'smell the roses'
e deixar-nos embalar pelo vento.
nem sempre temos de ser nós as decidir.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

como é que se desiste do que nunca se teve/fez - parte I

'[...]a mim o amor fica-me justo,
eu só visto a paixão de corpo inteiro'


desistir tão nova é uma coisa muito feia.
mas eu nunca fui talhada para fazer coisas bonitas.
é oficial, desisto.
e durante muito muito tempo não me ouvirão dizer que quero tentar.
porque não depende de mim.
(lá estou eu a desistir de assumir as culpas.
afinal, parece que já é inacto.)

DE-SIS-TIR.
está feito, é assim.
viram?

terça-feira, 19 de maio de 2009

'precisava de falar contigo...quando puderes'

não mais sei
não saber de mim

e perdida ainda
mais me perco
neste não saber
do que fui sendo
sem ser perdida
me perdendo
num passar de anos
mal passados
sem nunca

nos julgarmos malfadados
e acabando
relutantes

por o ser.

domingo, 17 de maio de 2009

esqueletos do armário

Gostava mais de mim quando escrevia coisas bonitas. Quando me sentava à chinês numa sombra, sacava do caderno pautado e voavam palavras tortas para as linhas rectas. Eu não precisava de pedir, de tentar. Eu simplesmente conseguia.
Agora nada se consegue. Tudo se tenta, e tudo fica pela metade, com aquele gostinho final do 'não concretizado'.

Perde-se o tempo a tentar, e a tentar depois perceber-se porque é que não se conseguiu. E nenhum tempo se ganha, só aqueles miseráveis segundos durante a tentativa, em que acreditamos que até podemos eventualmente conseguir. E depois falhamos, e esses segundos são resumidos a nada. Nada.

É um facto: gostava mais de mim quando chegava a casa a estas horas e tinha vida a vibrar na ponta dos dedos, a pedir para sair. Agora tenho um quarto dessarrumado, um espírito cansado, uma mente confusa e uma vontade de encostar a cabeça num ombro amigo e suspirar noite dentro todas as injustiças contra a minha alma penada.

Um fantasma acorrentado à má sorte por si mesmo criada.

Alguma coisa consegui, afinal.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

ensaios de projectos idealizados

[...]

Mais uma folha amachucada, desta vez porque uma lágrima borratou a primeira palavra. "Queria". Singular de mim novamente a assassinar o plural de nós. Outra lágrima.
Assim tão difícil transformar a nossa vida num romance, experiência cinéfila - luzes, câmara, acção, edição e por fim perfeccionismo?
Levanto-me e ponho música a tocar. Era o que faltava, inspiração. (Saudades de quando sabia escrever). Outra gargalhada, seguida de outra lágrima. Deito-me ao comprido na tijoleira fria e num flash lembro-me de como tudo começou. Melhor, lembro-me de como tudo acabou e fui forçada a recomeçar. Lembro-me de quando chorava com músicas que contavam vidas que não a minha. Desligo a música.
As palavras fluem, as lágrimas secam. Fogo, foi há tanto tempo. Talvez tenha sido ainda no tempo em que eu sabia quem não era. Sim, sim, foi exactamente nesse momento que deixei de saber quem ser, e recomecei forçosamente com outra alma no mesmo corpo.
Não sei escrever (ainda) mas sei já quem fui.
Firmeza, vá. Assenta a caneta no papel e começa. Hum, talvez fosse melhor escrever no computador. Deixa-te de desculpas e começa!

"A minha vida dava um filme indiano, mas sem os elefantes."
Sim, é mesmo isso.
(im)Perfeito.


[in Singular de Mim, de Mariana Silva]

segunda-feira, 11 de maio de 2009

azul de letras, caloira 2008.09





porque tudo isto fala por si.
porque por mais que eu quisesse explicar, não se explica - vive-se.
porque ser caloiro é sermos mais, por sermos menos.
e porque a praxe começa... agora.

*

domingo, 10 de maio de 2009

agora


Agora é altura de seguir pela estrada dos ladrilhos invisiveis... Perseguir os montros do passado malfadado, com caracóis ao vento e a alma quebrada nos punhos cerrados da vitória.

Agora é altura de ser mais eu, de percorrer os erros e dizer 'nunca mais voltarei a este local'. Mas é tão bom errar, no fim, quando sabemos já como fazer certo.

Agora, é altura de saber, por fim, o que queremos de verdade - porque já chega de nos enganarmos no caminho, e levarmos connosco caminhantes errantes.

Agora, é altura de parar de sonhar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

[ainda] nós

















eu sei que já chateia, mas ainda nos continuamos a dar, ainda somos amigos e, acima de tudo, ainda partilhamos momentos importantes.
é um facto que ambos choramos nesta noite. é um facto que foi dos melhores abraços, que me sossegou a alma. e é também um facto que ambos esperamos, dali a um ano, estar a ouvir uma mesma serenata (desta vez não à espera de traçar a capa, mas já sim de capa traçada) com os mesmos sentimentos à flor da pele, a brotar em lágrimas.


esta foto é dedicada a si, Teresa, para que possa ver o(s) seu(s) menino(s) de negro, como manda a noite :)


quarta-feira, 6 de maio de 2009

LLM- 2006.07/2008.09



Foi Arroz.

Foi o terceiro ano. Foi o segundo ano. Foi a Veterania. Foi o quarto ano. Foi a caloirada. Foram lágrimas, sorrisos, abraços. Foi muita água, muito açucar, foram cartazes a fazer sombra, foi amparo. Foi agarrarmo-nos a tudo o que vivemos neste ano e seguirmos em frente, de quatro.

Foi, acima de tudo, o orgulho e o amor a um curso, que cresce a cada dia.

Por uma casa,
mas especialmente por um curso que se reune numas escadas para chorar o fim que chegou
Por veteranos e doutores que dizem 'agora sim, acabou' e nos olham a pensar 'ainda ontem era setembro'.

Por caloiros que ainda não se habituaram a ser pastranos e ainda nem sabem segurar numa pasta.
Por vozes roucas, pés cansados, rostos suados... e muitos, muitos anos por vir.



LLM.
Linguae et Literaturae Modernae.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

monumental serenata





Não saberei nunca
dizer adeus


Afinal,
só os mortos sabem morrer.

[Mia Couto]

sábado, 2 de maio de 2009

o inicio do fim - que [ainda] não tem fim porque é o início

















Imaginem um sitio imperfeito, tão imperfeito como os que o acolheram e por ele foram acolhidos. Imaginem um sítio sem lugar, porque é feito de pedras da alma. Imaginem que todos os que fazem parte desse mundo (azul&preto) sabem onde encontrar esse lugar. Agora imaginem como seria a placa dessa rua sem nome, cujo nome todos sabem.
Estranho não é?
Foi assim que a imaginamos e a devolvemos a quem nos deu tudo.

semper per omnia tempora.
[é hoje]

sexta-feira, 1 de maio de 2009

a agenda cultural da primeira semana de maio de um estudante

É o primeiro texto que escrevo com o teclado novo. Sim! Comprei finalmente um teclado e um rato sem fios uuuuuh com o meu fantabulástico desconto de funcionária de uma cadeia internacional de lojas comercializadoras de produtos culturais, informáticos e fotográficos. Mas isso são outras vidas.

O que me traz aqui hoje é o facto de na próxima semana saber que não vou 'cá' pôr os pés. E porquê? Porque além de ser a Queima, é a semana em que deixo de ser uma coisa para ser outra (teoricamente, uma vez que na prática continuo a ser a mesma =D ). Ora bem, eu explico-vos, partilhando a minha agenda para a proxima semana:

Sábado, 2 de Maio : Monumental Serenata - chorar.
Domingo, 3 de Maio : Imposição das Insígnias - chorar por morrer de dores.
Segunda feira, 4 de Maio : Beneficência e tal - morrer de dores mesmo.
Terça feira, 5 de Maio : Cortejo - morrer de tudo e mais alguma coisa, levar com pastas nas trombas, chorar por tudo e mais alguma coisa e levar com pastas nas trombas. Ir à Queima das Fitas - beber, para esquecer que morri e chorei.
Quarta feira, 6 de Maio : não sei bem o que vou fazer, mas espero ressuscitar.
Quinta feira, 7 de Maio : trabalhar até às 21h (após quatro dias de folga), ir ao aniversário da Leoparda e Queima das Fitas - esquecer tudo e mais alguma coisa.
Sexta feira, 8 de Maio : trabalhar até à meia noite e seguir para a Queima das Fitas com os meus mais-que-tudo!
Sábado, 9 de Maio: acaba-se 'a semana'. Se calhar vou à Queima ver o Rui Veloso e chorar baba e ranho por perceber que acabou-se tudo, MESMO.


Já devem ter percebido que eu sou uma pessoa que chora. Se calhar é por isso que pra semana não venho cá, não quero inundar o teclado novo!
Bem, amanhã devo chorar também, mas isso já 'são outros quinhentos paus', como diria alguém sábio.
É o fim, pessoas, é o fim.
Não é nada. :)