sexta-feira, 13 de agosto de 2010

I could really use a wish right now

estás a ouvir-me chamar por ti?
eu sei que custa ler-me. sou um livro aberto, mas escrito de trás pra frente e de pernas para o ar, história onde é preciso saltar umas páginas para seguir o raciocinio tresloucado, fio condutor da alma. sou estranha, sempre mo disseram e eu sempre encarei isso como um elogio, no fundo, por que a arrogância de querer ser diferente sempre me correu nas veias. tenho saudades da inocência, do tempo em que as coisas eram fáceis porque não as víamos complicadas, porque lutavamos para as ter, sem pensarmos o quão dificil seria se perdessemos.
tenho saudades de conseguir ser sincera, sem me esconder atrás de três projecções do corpo que agora carrego como um escudo protector, e tenho ainda mais saudades do tempo em que era transparente... e em que, apesar de complicada, entrava numa sala e clamava 'eu sou assim'.
mas consegues ouvir-me ou não?
não consegues. o tempo faz sempre questão de correr mais depressa do que desejamos, ou mais devagar do que nos convem. apesar de ter aprendido muitos truques para que nenhuma bala atravessasse este corpo-escudo, nunca consegui aprender o truque de enganar o tempo. de o fazer passar mais rápido para que também a dor passasse mais rápido. de o fazer passar sem que me apercebesse, para que também não te apercebesse.
nunca pensei que custasse descolar um corpo do meu, se no fundo era só um corpo.
acho que já não estava habituada a percorrer-me no escuro e então acabei por me perder, porque deixei o mapa no armário, escondido, para que mais ninguém tentasse essa ousadia de percorrer esta pessoa, tão estranha.
quis tanto esconder de ti o caminho, que eu própria me perdi nele.
não me consegues ouvir, porque no fundo eu sei que não estou a chamar por ti.
mas queria. queria tanto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

antes de sair de casa....

ando vazia. o corpo estranha já não transbordar de tudo o que o fazia viver, e arrasta-se pelos dias como se ao vê-los passar depressa, mais e melhor pudesse vir num outro futuro.
encontro nas paredes da casa onde habito o eco das memórias que me fizeram ser eu.
olho as fotografias e rio-me do que já fui, certa de que o era. agora não sei.
acho que isto de ter a idade começada por um dois me anda a dar cabo dos fusíveis.
mas como muito bem disseram, daqui a um mês já andamos a cheirar a faculdade e não há tempo para divagações. trabalhar, trabalhar, trabalhar.
é o último ano: ano de me licenciar, ano de tirar a carta, ano de encerrar o capítulo negro.
é o último ano de faculdade. e vai ser um óptimo ano, a começar já em setembro.
e ainda que faltem mais de nove meses, sei que vai ser a melhor queima das fitas de sempre. ah pois vai.
*

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

all you dreamers, keep dreaming

Filho de uma prostituta engessada, és um inútil como a tua mãe.
Raios te partam se alguma vez mais me vais pôr a vista em cima. Nem sei como fui capaz de ser cangalheira da tua alma durante tanto tempo, sempre a percorrer as mesmas estradas esburacadas e imundas, sempre a mendigar, sempre com fome de tudo mais que a vida tinha para me oferecer e eu não podia receber porque estava presa a ti.
Foi burrice, agora eu sei. Deixei-me invadir por essa molenguice que enfraquece o carácter e que as mulheres gostam de apelidar de amor; quando dei por mim acordava a pensar em ti quando não te tinha a meu lado, e adormecia a falar contigo mesmo se estivesses longe de mim. Isto, meu querido, é amor. E eu sabia, porque dependia de ti como uma miúda depende de sorrisos para acreditar que o mundo é um lugar melhor. Dependia do teu corpo para entrelaçar o meu, dependia da tua energia para aguentar os meus dias, dependia do teu olhar para ver as coisas de um modo diferente. Dependia de ti para ser alguém diferente, porque há muito tempo que estava farta de ser só eu, sempre sozinha, sempre distante, sempre calculista e desconfiada, sempre sem sonhos.
Tu vieste para me levantar os pés do chão e fazer-me acreditar que ainda era possível flutuar, mesmo já não acreditando em contos de fadas. Vieste não sei de onde, e é para aí que quero que voltes agora. Vai. Raios te partam, vai.
Preciso de existir sozinha, sem te ter a roubar-me pedaços de alma diariamente, como cubos de açúcar para adoçar o teu café.
Mas a verdade é que me fazes falta.