quinta-feira, 19 de março de 2009

qualquer coisa que não volta, que voou

estou ausente.

pior do que estar ausente dos outros, é estar ausente de mim.
é não saber em que porto seguro atracar, quando temos toda uma praia disposta a receber-nos, deitados no areal, o corpo vivamente morto.


são tantas as razões, que é cansativo nomeá-las e perco-me no facto de 'não ser'.
relembro as alturas em que um abraço resolvia tudo, em que chorar resolvia tudo.
hoje, um abraço complica mais e um choro inicia novos desafios, nesta roda viva de não saber mais como se fugir.


estou tão louca que já nem pra mim faço sentido e tenho medo de adormecer e não saber mais acordar, por não ter razões.
medo de morrer, não fisicamente, mas de morrer para mim, morrer para o sentido das coisas e a vida comum que nos espera, morrer para o palpitar da cidade às cinco da manhã numa rotunda. morrer para o nevoeiro que se instala, para o frio que nos percorre, para as conversas que se tem e se perde e já não se lembra - mas que ajudam. morrer para as frases que ficam na memória, para as mãos que se dão e seguram lágrimas, para o poder de uma roupa, para o poder de uma tarde num restaurante de fast food. morrer para o poder de um fado, para o força que uma fonte pode ter, morrer para um sorriso, morrer para uma lágrima. morrer para os opostos e para as certezas que só têm força por as julgarmos tão incertas. morrer para os cafés, para o mundo branco e baço e tresloucado, morrer para os Lusíadas, morrer para o sabor de um iogurte. morrer para as galinhas e os pius e toda a vida que se encerra nas pedras que choram. tenho medo de morrer.



morrer para o facto de chegar a casa e não saber dormir.
estou ausente de mim e preciso de paz.
mas quanto mais preciso, menos a quero.
e toda esta electricidade que me percorre, faz-me tão mal que me faz bem.








o teu bem faz-me tão mal


o teu mal faz-me tão bem











e agora vou dormir, se me dão licença.
que amanhã tenho outro dia para não-viver, vivendo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Belo texto e bela citação dos Deolinda! Não passo sem as músicas do CD (já o comprei, finalmente!) nem sem os teus posts... ;)
bjs

Vânia disse...

Adorei o q escreveste! xD
E adoro te a ti, cada dia mais.
Acho q posso dizer q tenho medo de ficar sem ti! N m deixes, meu apoio as 2h da manha...

***

ematejoca disse...

What the Robin Told

The wind told the grasses
And the grasses told the trees.
The trees told the bushes,
And the bushes told the bees.
The bees told the robin,
And the robin sang out clear:
Wake up! Wake up! Spring is here!
~ author unknown

Beijinho primaveril para ti, Mariana, da Teresa de longe!

Voluptia disse...

Piu amoroso.