Já estive em muitos sítios. Conheço muita gente, mas não posso dizer que verdadeiramente conheça certas pessoas. Posso garantir, sem bela nem senão, que não me conheço, mas
reconheço-
me em cada vivência - e sei dizer, a quem escutar o vento, o que é característico de mim. A minha imagem é o que os outros pensam de mim, mas o reflexo dela é aquele monstro,
dark and twisted, que se encerra com um carinho. Uma música, uma banda sonora. Dislexia do teclado pelo exagero da velocidade da escrita, contraposta à dolorosa lentidão do pensamento. Uma lágrima.
Em mim se inicia e encerra a verdade do eu enjeitado. Uma melodia - e um amor escondido nela. Não tenho amor em mim, mas algum hei-de ter para dar, escondido na tal melodia que não escuto, quiçá porque já esqueci o sabor das madrugadas a teu lado.
Teu, tu. Eu? Sem espaço ou tempo, sem consequências fidedignas do erro cometido - passo impune por entre as gotas de chuva, irremediavelmente, inconsequentemente jovem; traste, bruxa do acaso, pássaro perdido. Passo impune pela multidão; e a imagem que carrego? Não a vejo, outros a vêem. Chamam-me mulher, quero que o façam, naquela acepção barata de quem quer sem querer na realidade, de quem se rende à idade que floresce e sabe, no fundo, que traz escondida no peito a criança dos contos infantis, a criança dos doces e gelados, a criança da televisão e das mantas e dos carinhos.
Sem saber porquê, é na multidão incógnita que mais facilmente me encontro. É no 'não-saber' que me defino, é na incerteza que me destaco. As lágrimas não são de ninguém, mas no entanto percorrem a minha face. E a solidão, ausência de personalidades significativas, retrata-se no espelho do meu olhar cansado de percorrer as ruas e vielas, os rios e mares, montanhas e vales. Cansada de percorrer - e de já ter desistido de percorrer seja que caminho for, convencida da finalidade barata de cada sorriso, cada palavra, cada mensagem.
Perder a fé na comunicação é algo triste para quem tem 19anos. Aceitar todos os enunciados como mentiras, sejam eles verdadeiras falácias ou falaciosas verdades, é perder a fé no mundo. É desaprender de confiar em tudo. E é sempre tudo mais uma melodia - porque o tudo é o que nós quisermos que ele seja.
Já estive em muitos sítios e agora estou
aqui e escrevo, como gosto, sozinha.
80% das mulheres que afirma não ter tempo para uma relação... sente-se sozinha, ouvi eu numa qualquer comédia de hollywood que passou pela televisão este fim-de-semana. Mudei logo de canal; não pago tv cabo para ser obrigada a conviver com os meus demónios. Para isso, meus caros, há a poesia -que quando nasce, é para todos.
P.S.: nota-se logo que estou de folga.