Há todo um swing no movimento. A pele é arrastada ao de leve, com carinho, quando a mão toca na face, quando ele mergulha nos olhos dela. Ela chora, ele não percebe. Os homens nunca percebem porque é que as mulheres choram em momentos de suposta alegria.
É inverno e a cidade clama calor. Dentro das casas vive-se, enquanto nas ruas se respira a morte dos sentimentos. Ela já não sabe para onde foi o amor e é por isso que chora. Procurou-o incessantemente enquanto ele esteve fora, e agora que ele chegou... nada mais existe.
São ele e ela, nas ruas, na cidade, no frio. Ele seca-lhe as lágrimas com um beijo e, como sempre fazia, beija-lhe a testa em sinal de maximo respeito. Quem visse de longe quase, quase podia jurar que viveriam felizes para sempre. Quem visse de longe, nada sabia decerto.
Ela estava linda - ele podia jurar que ela estava linda; nada tinha mudado. O rosto, mudo, contava histórias do tempo em que ele tinha estado ausente. Reconhecia cada pedaço da mulher que tinha ficado para trás, porque ela não tinha de facto desaparecido.
O que ele não sabia, no entanto, é que além da mulher que amava, outras mulheres tinham surgido em seu corpo, concretizando as vontades estranhas que as mulheres têm de se contorcer em voltas e revoltas, donas e senhoras de várias almas por esculpir. No olhar, ele viu fogo após as lágrimas. Um fogo que não conhecia, porque não estava lá antes. Antes, quando ele estava. Antes, quando eles eram eles. Antes, quando quem visse de longe podia mesmo jurar que viveriam felizes para sempre.