Às vezes simplesmente não sei o que te dizer. Sei que achas estranho, porque desde sempre fui dotada de uma grande capacidade de comunicação e sempre conversei até com o senhor que esperava atrás de mim na fila da padaria, mas a verdade é que às vezes dou por mim sem ter o que te dizer. Simplesmente sinto a garganta a fechar-se, e a voz claustrofóbica, relutante, nessa insegurança tola de não se saber exprimir. Apodera-se de mim um silêncio tão confortável e ao mesmo tempo tão aterrador... Imagino-nos velhinhos, num qualquer alpendre daqueles filmes americanos, sonhos idílicos de uma vida tão longa... E imagino-nos, quietos; tu a contares as nuvens de um céu mais azul do que nós nos lembravamos ser possível, e eu calada, imberbe, seca.
O singular de mim sempre aniquilou o plural de nós. Eu costumava dizer que era uma estrela do mar, que se autoreproduz e autosustenta, sozinha. Sozinha.
Sempre gostei de partilhar, mas nunca soube como manter alguém ao meu lado o tempo suficiente para o fazer. Sempre gostei de imaginar que teria um futuro, mas a cada presente que tentava construir sentia tudo a desmoronar-se, com aquela facilidade maléfica que um sopro tem de derrubar um castelo de cartas.
Nunca soube ser plural. Nunca me habituei a ter alguém, porque sempre me preenchi e transbordei de mim mesma, com tudo o que conseguia sugar da vida.
Por isso, meu querido, não me leves a mal quando te digo que não tenho nada para te dizer.
Tenho, isso sim, um medo sufocante que me percorre a espinha e me vem assombrar a cada noite, que me sussurra encostado ao pescoço, a ameaçar-me, o malvado; tenho um medo sufocante de que esses vazios de silêncio comecem a ser mais frequentes do que os risos e os toques e os olhares.. e que tudo se perca, quando nada se diz.
Tenho, isso sim, um medo sufocante de te perder... por não conseguir dizer, nesses silêncios, que simplesmete não falo não por não te querer bem, mas sim por te querer mais do que as palavras me permitem, ainda que eu seja feita delas.