sábado, 15 de maio de 2010

do que se sente por estes lados

mas que filha da puta. vai-se a ver e já nada é como dantes. as coisas mudam, desvanecem-se. vai-se a ver e o moço já nem gosta dela ou ela anda enrolada com outro. vai-se a ver e já tá prenha de um sonho moribundo ou é já falácia de um futuro promissor. filha da puta é o que é. anda uma pessoa a construir castelos de sonhos para os vendavais os transformarem em barracos e para os pássaros fazerem ninhos nas caldeiras de almas puras. vai-se a ver e já não é nada do que se tinha pensado, já não vai pra faculdade nem morar no estrangeiro. vai-se a ver e vai trabalhar a servir as mesas e a escrever poemas nos talões dos clientes, escrava de um retrato pior que um reflexo de espelho partido. filha da puta. filha da puta. anda-se a maltratar as sombras, a pensar que o sol quente nos enriquece, e afinal todo aquele glamour dourado é falso, insípido, desprecioso, maltrapilha. anda-se a plantar dores para colher ensinamentos, mas no fim são tudo ervas daninhas da idade. filha da puta. mesmo filha da puta. vai-se a ver e a boa moça tem duas caras que não conjugam, e público que não sabe a que cara assistir, qual ecrã de televisão. às tantas voltam os emigrantes retornados da ilha do esquecimento por esquecer... e vai-se a ver e volta-se ao passado, em vez de se prosseguir do presente para o futuro, como nos ensinaram os paizinhos. olha-me que filha da puta! vai-se a ver e já tem bilhete de comboio para sítio nenhum, com escala incerta em parte alguma. vai-se a ver e deixou uma carta sem remetente nem destinatário, com as verdades todas do que sente e do que não sente, tão rídicula, tão parvinha, tão sem sentido - tudo tão sem sentido.... vai-se a ver, e é mesmo só isso que podemos levar desta vida filha da puta.

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