I'm waiting for something, always waiting
Feeling nothing, wondering if it'll ever change
Maroon5, Give a Little More
hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais.
complicamos ao querer simplificar, com esta coisa toda de querer pôr tudo em pratos limpos. no fundo, trata-se de não querer arcar com as culpas - resolvemos exaustivamente os embróglios que temos guardados na dispensa, para que mais tarde não nos acusem.
'eu tentei' é frase predilecta; 'eu tentei' resolver as coisas a bem; 'eu tentei' falar, ouvir, problematizar; 'eu tentei' e não deu... mas a culpa não é minha. a culpa é do outro que não tentou. a culpa é do outro que não falou, que não sabe, que não resolve, que tem a vida em suspenso.
hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais. no tempo em que os amores se faziam com uma ida ao bailarico e um cochicho entre amigos... aí sim, era simples. dois dias depois já iam comer um gelado juntos, e já se falava em boda pelo bairro. um mês depois ele já frequentava a casa aos domingos para o almoço de família, e vai na volta já se começava a planear o enxuval. meio ano e havia casamento, ano e meio e crianças a bordo. era assim, simples, exacto.
no fundo não pensavam muito em casar, em amar, em 'fazer vida' - talvez porque o julgassem inevitável.
hoje em dia, iniciar uma relação amorosa é quase como entrar numa loja de doces; tanta escolha obriga-nos a ponderar qual será o melhor; entre ponderar e não ponderar vai-se a ver e passam anos, até que depois nos apercebemos de que é bem mais simples estar sozinho às vezes. o que mais custa é quando sentimos falta do doce... aquele doce que iamos comprar mas demoramos muito para escolher, sabem? às vezes sentimos falta dele; porque estamos tão azedos de estar sós, que não nos apercebemos dos anos passarem por nós.
hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais.