sábado, 20 de junho de 2009

homicídio de primeiro grau

De manhã, antes de sair, olha só uma última vez para trás e vê a doçura na pele dele, que dorme. Os traços perfeitos, porque ela assim acredita que sejam, a respiração pausada, a calma, a ternura. Está tão belo a dormir que ela se demora mais um pouco, antes de se aproximar para lhe beijar a testa. Então ele abre um olho, desconfiado, como quem quase desperta mas ainda dorme, sem saber se é sonho ou realidade o que acaba de sentir. Agarra-lhe a mão e puxa-a para si, contra o peito. Ela sente o coração bater e jura que já não sabia o que era sentir-se assim há muito tempo. Despede-se, com a relutância dele, que não a quer deixar abandonar o ninho.
Ao fechar a porta, o seu coração bate, acelerado. Que excitação, que ternura, que vida. A sua alma está repleta de sonhos e algodão doce, sente-se uma criança numa feira popular, onde todas as cores e sabores e movimentos são novidade.


Ao descer as escadas não se apercebe do tombo que está prestes a dar.
Passam dias, passam semanas, e o castelo desmorona, qual baralho de cartas soprado pelo vento.
Os sonhos são bons demais para serem realidade - e para alguém cujos batimentos cardíacos eram sonhos que brotavam sem cessar, essa mesma realidade de ser áspera e seca, essa mesma verdade absoluta de homícidio de sonhos só porque assim tem de ser, dói muito mais do que se os sonhos se aniquilassem por si próprios.






Posso dizer que eu sou:"Alguém que tem quase tudo"
O meu tesouro é tão precioso
Tudo o que eu tenho é maravilhoso
Por isso eu posso dizer"Sim,tenho quase tudo"

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