domingo, 28 de junho de 2009

mais e mais coração





Já não sei de mim.

A pele de porcelana dorme, gelada.
O olhar negro, perdido, de ave desencantada.
O toque, sem toque, ausência de toque tocado.
O beijo, ausente, sussurra 'não estou apaixonado'.




imortalidade mortal

you got to spend some time, love
you got to spend some time with me
and I know that you'll find, love
I will possess your heart


Há dias em que acordamos com a certeza de como se vão desenrolar as próximas horas no mundo mortal.
As inevitáveis futilidades, as notícias de desgraças, as fofoquices das celebridades, os amigos que encontramos ao atravessar de uma passadeira, a companhia para o almoço, as sms trocadas, os sorrisos, os olhares frios, os toques, a companhia para o café, os minutos contados, as conversas sem sentido, as músicas, os metros, autocarros, comboios, o mau tempo, o sol, as palavras doces, o fogo que queima. Tudo num remoinho e o dia a chegar ao fim. Aquela pessoa. E mais aquela. E todas as outras que se cruzam connosco e que não nos são nada.
A inevitabilidade das coisas comuns se tornaram em algo significativo é muito improvável.
Mas acontece.
Com a coincidência de quem atravessa a passadeira só porque está sombra no passeio em frente. Com a coincidência de quem perde um metro e entra no próximo, só porque tem de ser.

Quem diria.
Simplesmente há dias em que acordamos e não sabemos como será.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

maravilhoso, coração, maravilhoso

' Queria entregar-me nas tuas mãos.
E entreguei-me - terás percebido isso? Deixei de saber quem era. Continuo a precisar de ti para existir. Para dormir. Um dia confessei-te que tinha insónias. [...]
Conversamos pela noite dentro em tua casa, tu já mal conseguias manter as pálpebras levantadas. Pedi-te que me deixasses ficar mais um bocadinho, porque me custava entrar em casa sem sono. Pegaste-me na mão
- anda comigo
e levaste-me para a cama. Enroscaste-te em mim e começaste a coçar-me as costas, muito devagar. Dormimos muitas e muitas vezes assim, e nunca, nem por um segundo, pensamos em fazer aquilo a que os inocentes chamam sexo. Falavámos muito disso, sim - desse acto a que as pessoas vão chamando sexo ou amor consoante as conveniências e as circunstâncias. Esse acto que as pessoas vão repetindo até à mais exaustiva solidão. Nós não podiamos prescindir um do outro. Não podiamos entrar no infinito jogo finito do corpo. Derramei sobre a tua vida, por incontáveis noites, os meus breves amores perfeitos, pormenor a pormenor.
E tu derramaste sobre a minha as tuas paixões impossíveis, impossíveis de apagar.
Desejo-te tanto, ainda.'

[Fazes-me falta, Inês Pedrosa]

segunda-feira, 22 de junho de 2009

michael bublé meets madison square garden kind of happiness












já tenhooooooo.
prenda de anos adiantada :)

sábado, 20 de junho de 2009

homicídio de primeiro grau

De manhã, antes de sair, olha só uma última vez para trás e vê a doçura na pele dele, que dorme. Os traços perfeitos, porque ela assim acredita que sejam, a respiração pausada, a calma, a ternura. Está tão belo a dormir que ela se demora mais um pouco, antes de se aproximar para lhe beijar a testa. Então ele abre um olho, desconfiado, como quem quase desperta mas ainda dorme, sem saber se é sonho ou realidade o que acaba de sentir. Agarra-lhe a mão e puxa-a para si, contra o peito. Ela sente o coração bater e jura que já não sabia o que era sentir-se assim há muito tempo. Despede-se, com a relutância dele, que não a quer deixar abandonar o ninho.
Ao fechar a porta, o seu coração bate, acelerado. Que excitação, que ternura, que vida. A sua alma está repleta de sonhos e algodão doce, sente-se uma criança numa feira popular, onde todas as cores e sabores e movimentos são novidade.


Ao descer as escadas não se apercebe do tombo que está prestes a dar.
Passam dias, passam semanas, e o castelo desmorona, qual baralho de cartas soprado pelo vento.
Os sonhos são bons demais para serem realidade - e para alguém cujos batimentos cardíacos eram sonhos que brotavam sem cessar, essa mesma realidade de ser áspera e seca, essa mesma verdade absoluta de homícidio de sonhos só porque assim tem de ser, dói muito mais do que se os sonhos se aniquilassem por si próprios.






Posso dizer que eu sou:"Alguém que tem quase tudo"
O meu tesouro é tão precioso
Tudo o que eu tenho é maravilhoso
Por isso eu posso dizer"Sim,tenho quase tudo"

quinta-feira, 18 de junho de 2009

+ ou - é =

Deixa-me só dizer-te o que acho acerca disso. Se acho bem, se acho mal - deixa-me dar-te a minha opinião. Porque o que é meu é teu e o que é meu sempre teve valor e sempre contou para ti mais do que poderias sequer contar.
Podes sentar-te e ouvir, se ficares mais confortável. Ou encostar-te à parede, desde que não a sujes, porque é branca. Ou podes mesmo apoiar a mão no queixo, como fazem os preguiçosos que não seguram a cabeça devido à preguiça. Eu não me importo, mas deixa-me só dizer-te o que acho acerca disso.

Não consigo. Há coisas na vida que tentamos uma vez e percebemos que não fomos talhadas para tal. Depois pensamos que é falta de timing. Que se fosse noutra altura, outra pessoa, outra circunstância, outro espaço, tudo ia correr pelo melhor. Pensamos que se a vida fosse outra, nós seriamos outros e teriamos uma (mesma) outra voz a dizer deixa-me só dizer-te o que eu acho acerca disso.

No fundo somos robots de nós próprios, dos mecanismos que criamos. Vivemos enclausurados nas malhas das prisões que autoconstruimos, pelo medo de falhar. Somos vítimas de um conto de fadas dramático, como se tivessemos pago ao autor para escrever a história dessa forma, de modo a sofrermos mais e termos menos, e sermos mártires de um futuro injeitado, cujo final da história ja conhecemos.

No fundo, nunca sabemos bem o que dizer quando nos dão oportunidade. Pensamos e revemos mentalmente mil e uma vezes o discurso preparado, mas na hora H não sai nada como tinhamos pensado: ou perdemos a força, sopramos a voz, ou somos invadidos pela ignorância e elevamos o tom.

Nunca nada é perfeito, nunca nada é total. São os momentos que fazem a totalidade, não é a totalidade que faz a felicidade. A totalidade é a felicidade.


Sou o total não encontrado de uma equação por resolver, tudo porque sou má a matemática e tive sempre medo de ser a raiz quadrada de um número demasiado ridiculo e inferior. Todos somos totais e todos temos medo, e eu sei que não consigo, e era isso que queria que me deixasses dizer.
Eu sei que não consigo porque ja tentei meia duzia de vezes e nunca consegui. Eu sei que não consigo porque não quero mudar-me, já que aprendi a gostar de ser assim.
Há também quem não mude porque não sabe ser de outra forma - e se calhar foi isso mesmo que me aconteceu.

Todos nos arrependemos de não termos dado o devido valor às várias parcelas somatórias do total. Mas no fim de contas, não somos máquinas calculadoras. Somos seres humanos.

Ainda bem que me deixaste dizer-te o que eu achava acerca disso.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

longe do mundo

[...]
Eu não sei se vais lembrar-te
De um coração tão só
Coração tão vagabundo
Que perde, chora, todos os dias

Longe do mundo mas perto de ti
Peço conforto de quem eu fugi
Venho de longe e chego por fim
Quem vai ouvir-me chamar assim
Perdida, esquecida, aqui ao orar
Longe do mundo mas perto de tiii...






amo a disney.
e é só isto por hoje.

[filme Corcunda De Notre Dame,
versão portuguesa da música por Sara Tavares]

domingo, 14 de junho de 2009

partida do porto, sem destino óbvio

Cala-te.
Repugna-me esse teu jeito malfeitor de quem consegue sempre o que quer, como se a felicidade te estivesse destinada. Desengana-te meu menino, terás de sofrer, penar, rasgar os joelhos e lamber as feridas sozinho - porque eu embarco hoje num qualquer comboio, alfa pendular, intercidades, nao importa, o que eu quero é ir para longe.
Tenho saudades de tanta coisa que nem sei por onde começar, e tenho principalmente saudades de saber o que é não ter saudades de algo. Há quem diga que é um sentimento bom, que é sinal de que se está vivo. Eu cá por mim julgo que não, que é um sentimento que corrói, que enferruja, que faz brotar ervas daninhas no mais bonito dos jardins. Não quero ter ervas daninhas.
Cala-te, já disse. Não foi um pedido, nem uma ordem, foi apenas e simplesmente uma constatação de uma melhor realidade para ambos: o teu silêncio.
O simples zumbido do teu respirar recorda-me da tua existência e desse jeito forçado que sempre tiveste para dizer 'eu amo-te'. Não quero esmolas, pedaços de ti, sempre te quis todo e se não souberes como se faz, vai aprender e regressa um dia mais tarde, quando souberes. Não, não te vou ensinar, não te vou explicar que o amor é um baralho de cartas em que nenhuma é a mais alta, em que ninguém vence, não te vou dizer que passar a noite acordada no escuro a sentir o amor dormir é a melhor sensação de todas, não, não te vou contar como é que se faz para prendermos a nossa cara metade numa roleta russa em que todos ganham, todos perdem, em que a sorte não existe, simplesmente se joga. Esquece, não vais aprender tão cedo que não tens de abdicar de ti, tens simplesmente que me aceitar a mim como parte integrante do teu ser, quase como a tua sombra, inseparável mas sem perturbar a tua individualidade - habituas-te a que ela esteja sempre presente, e até estranharias se não estivesse. É assim o amor, feito de luzes e sombras, sóis e tempestades, e principalente feito de coisas inexplicáveis, que não, não te vou explicar, porque quero que aprendas para que um dia mais tarde, quando souberes, regresses.
Já disse que quero que te cales?
Mas tu já não ouves. Já não reclamas das minhas fobias, manias, ideias, já não reclamas das necessidades, dos pormenores, das picuinhices. Simplesmente já não falas, e não foi por eu te ter mandado - pedido, constatado, qualquer coisa desse género - calar. Foi, sem mais nem menos, porque resolveste abandonar este terreno inóspito a que chamavamos relação. Não vou atrás de ti e sabes porquê? Porque olho a tua sombra, mal viras costas, e percebo que não sou eu nela reflectida. Na minha mão, rendida, a tabela de horários dos comboios. Para onde ir?

sábado, 13 de junho de 2009

até ser dia


quando cai a noite na cidade
há sempre um sonho
e há magia
(h)à noite na cidade...


[lanches mistos, pizzas, luzes e Piolho]

quinta-feira, 11 de junho de 2009

adoro bolhaaaaaaaaas


a serio, no dia em que eu deixar de gostar deste homem é porque alguma coisa anda muito muito mal. nos EUA o cd sai já este mês. por cá, deve ser praí no mês que vem...que rica prenda de anos :D

one of the great philosophers said "there is no try - there is do anddo not". that was Yoda.
:D AHAHAH

terça-feira, 9 de junho de 2009

mudança


" Aquilo que está fora é mais difícil de mudar do que aquilo que está dentro."
Alguém dissera aquilo. Num movimento instintivo, Brida olhou assustada à sua volta. Mas tinha a certeza de que não ia encontrar ninguém. Era a Voz.
[...]
Ficou em silêncio à espera de escutar mais alguma coisa [...] Mesmo que todas as pessoas do mundo lhe provassem que aquilo era fruto da sua imaginação, mesmo que a caça às bruxas voltasse de repente e ela tivesse que enfrentar tribunais e morrer na fogueira por causa disso, tinha a certeza absoluta de que tinha escutado uma voz que não era a dela. [...]
Só agora é que estava a compreender como aqueles exercícios, aparentemente sem sentido, mudavam a sua vida. Só agora, mudando por fora, podia perceber o quanto estava mudada por dentro.
in Brida, de Paulo Coelho.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

'escrever para não esquecer' - conversas e anotações delirantes de noites bem passadas

uma noite algures em AGOSTO 2008
[algum sono a mais na cabecinha]








M1.: Eu não sei quem é que não tem relações aos 45 anos, só se forem os aleijados!
M2.: Olha! O viagra é caro, eu sei lá se nessa altura vou ser remediada ou rica!
A.: Nessa altura já vai ser comparticipado...

*

13 de SETEMBRO 2008 - noite dos resultados das candidaturas à faculdade
[algum álcool a mais no sangue]
B.: Ai...estámos tão crescidas!
M1: Estamos, estamos... aqui sentadas à beira rio a beber vodka!
B.: Isto não é vodka Mariana...

Está a chegar o verão e quero mais noites assim - noites assim.
Uma tão saborosa inutilidade! Saudades de me sentir assim, calma, serena, docemente pachorrenta como o Verão.
:)

domingo, 7 de junho de 2009

perfeito, meu coração

tanto para fazer, nenhuma vontade.
acordei com o espírito do avesso hoje.
já há muito tempo que me encontro assim, descentrada. provavelmente preciso de tudo aquilo que não tenho, nem sei como conquistar.
sabem o que é não conseguir sair de casa?
é demasiado confortável estar barrada por quatro paredes. e cada dia é pior por saber que não consigo arriscar.

no fim, vai tudo correr bem.
eu sei que sim.



'que perfeito coração
no meu peito bateria
meu amor na tua mão
nessa mão onde cabia
perfeito, meu coração.'


quinta-feira, 4 de junho de 2009

repetido, e daí?


'Varri-te pela janela do quarto andar


da minha casa térrea


E colei a tua sombra


ao tecto do meu terraço.'



2008
[provavelmente ja postei isto aqui, mas não faz mal. o que conta, é o estado de espírito.]