hoje encontrei-te. nos recantos de um pensamento posterior ao sentimento, estavas tu. não me lembrava de te ter guardado ali, com carinho para mais tarde te encontrar e desejar, sem o fervor tolo dos inocentes, rasgar, olhar de relance mais uma vez e dobrar em quatro partes para guardar no bolso.
hoje revisitei-te. estavas conjugado nos meus poros e apercebi-me de que todos os dias corro em direcção a ti. é assustador o que uma mulher pode sentir quando assume que não sente. é um vazio imenso que ecoa na solidão de um corpo vagabundo, e todos ouvem esse clamor menos o corpo que berra. todos sabem, todos comentam, todos choram - menos o corpo, porque ele não está ali.
hoje tu também não estavas ali. mais uma vez não estavas, mais uma vez não senti a tua falta. porque o corpo não sente nem chora, neste não saber, nesta alma protegida de armadura, nesta alma dura, nesta alma nua.
hoje perdi-te. mais uma vez reconheço que te perdi num daqueles momentos em que te poderia ter ganho, se simplesmente tivesse dito mais do que o silêncio me permitiu. mais uma vez reconheço que te perdi porque nunca quiseste que te ganhasse, porque te querias perdido. perdi-te porque nem a mim me encontrei.
e por isso mesmo hoje, quando te
encontrei,
revisitei
e perdi,
porque não estavas,
apercebi-me de que quando queremos algo, tem de ser com muita muita força. para que todos saibam que o queremos. para que o que queremos nos queira. para que o nosso corpo saiba, para que o nosso corpo sinta, para que o nosso corpo chore.
hoje a minha mãe lembrou-me de que faltam exactamente dois meses para fazer vinte anos.
e não, não estou nostálgica. estou sozinha.
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