segunda-feira, 8 de novembro de 2010

back on track

Fito o telemóvel. Daqui a duas horas estou a trabalhar.
Olho em frente e o bilhete do Bublé já não está preso com um íman na estrutura metálica da secretária. Londres já passou, tenho aqui o iman parolo em forma de coração que diz LONDON, para mo lembrar. A música de fundo é Brandon Flowers. E, como quase sempre, está a chover lá fora e por isso escrevo.
Já fez mais de um mês que aqui vim, depois da última vez que fui ao cinema - Hollywood sucks.
Provavelmente não tenho escrito porque além de me faltar o tempo, falta-me mais qualquer coisa que não sei o que é. Inspiração? Nunca acreditei muito nisso. Vontade de desabafar?
Acho que os amigos têm desempenhado um papel crucial nisso. A menina incompreendida está a conseguir comunicar para além do papel - well done.
Sexta feira, é Barcelona.
E quem sabe, passagem de ano na neve.
Uns dias de inverno o na Alemanha, páscoa em Marrocos.
O mundo é o limite.

domingo, 3 de outubro de 2010

momento *grey's anatomy*

sentir demais. pensar demais. querer deixar de sentir.
nunca consegui ser eu própria, e talvez seja por isso que continuo a dizer em voz alta que o que mais me enerva é não me conseguir encontrar. mentira - eu não estou perdida. se há coisa que eu sei bem é dizer o que quero, o que odeio, o que sonho e o que me desilude. o que eu ainda não aprendi é a conseguir concretizá-lo.
uma lágrima. duas lágrimas. puta que pariu hollywood e o cinema barato, mais o sensacionalismo que ilude as gajas. como diria uma amiga, 'nós as gajas...'... e depois vem uma longa pausa. nem nós próprias nos queremos entender, quanto mais que um homem nos entenda.
está a chover tanto la fora e eu só me consigo lembrar de que tenho 20 anos. estúpido, não é, o poder de um número? - revela-nos a verdadeira força das expectativas. ri-se na nossa cara e dos planos que tinhamos e diz ''vês? já tens vinte anos e ainda estás aqui."
esta coisa das relações dá muito trabalho. dá tanto trabalho que eu nunca tive (verdadeiramente?) nenhuma e já estou exausta. é como se a nossa vida fosse um molho de chaves e cada uma delas uma decisão. uma porta (analogia parva). uma escolha (analogia ainda mais parva). e no fundo somos (sou) só mais uma daquelas mulheres com carteira grande onde tudo se perde e o molho de chaves rebola, rebola... e acabamos (acabo) por ficar à chuva à porta de casa à procura das chaves para entrar.
não há coisa mais frustrante do que viver de sonhos. senti-los, respirá-los. poder tocar-lhes ao acordar, senti-los no sabor de um café ou de uma bolacha maria. agarrar os sonhos, espreme-los. revivê-los nas coisas básicas, harmonizando-nos com eles. sermos repletos de sonhos é a coisa mais agonizante, porque vivemos lado a lado com a certeza de não os concretizarmos.
e depois vem aquele momento em que olhamos para o lado... e não está lá ninguém.
e é mais uma noite com a chuva lá fora, as chaves tombadas na carteira grande, o telemóvel em silêncio, uma qualquer revista feminina aberta ao acaso, 'namorar reduz o stress', mais pernas cansadas, mais dor de cabeça, talvez mais um chá (ou um copo de leite frio), mais uma cama de solteira, uns lençóis enternecedores. mais uma memória, e outra, uma gargalhada no vazio, novamente o sarcasmo da idade a lembrar-nos do que juramos alcançar e ainda não chegou. e um novo dia. repleto, repleto de sonhos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

'you' make it so hard

I'm waiting for something, always waiting
Feeling nothing, wondering if it'll ever change
Maroon5, Give a Little More



hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais.
complicamos ao querer simplificar, com esta coisa toda de querer pôr tudo em pratos limpos. no fundo, trata-se de não querer arcar com as culpas - resolvemos exaustivamente os embróglios que temos guardados na dispensa, para que mais tarde não nos acusem.
'eu tentei' é frase predilecta; 'eu tentei' resolver as coisas a bem; 'eu tentei' falar, ouvir, problematizar; 'eu tentei' e não deu... mas a culpa não é minha. a culpa é do outro que não tentou. a culpa é do outro que não falou, que não sabe, que não resolve, que tem a vida em suspenso.

hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais. no tempo em que os amores se faziam com uma ida ao bailarico e um cochicho entre amigos... aí sim, era simples. dois dias depois já iam comer um gelado juntos, e já se falava em boda pelo bairro. um mês depois ele já frequentava a casa aos domingos para o almoço de família, e vai na volta já se começava a planear o enxuval. meio ano e havia casamento, ano e meio e crianças a bordo. era assim, simples, exacto.
no fundo não pensavam muito em casar, em amar, em 'fazer vida' - talvez porque o julgassem inevitável.

hoje em dia, iniciar uma relação amorosa é quase como entrar numa loja de doces; tanta escolha obriga-nos a ponderar qual será o melhor; entre ponderar e não ponderar vai-se a ver e passam anos, até que depois nos apercebemos de que é bem mais simples estar sozinho às vezes. o que mais custa é quando sentimos falta do doce... aquele doce que iamos comprar mas demoramos muito para escolher, sabem? às vezes sentimos falta dele; porque estamos tão azedos de estar sós, que não nos apercebemos dos anos passarem por nós.

hoje em dia temos de menos, por pensarmos de mais.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

outubro

.LONDON.

está na hora de voltar
*

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

if you get down, get up, oh oh


descobri uma nova faceta: nao consigo escrever se estiver vazia, e muito menos se estiver demasiado preenchida.

as emoções saem em catadupa e nada se acerta. as palavras não fazem sentido, o raciocinio nao raciociona, os pensamentos evaporam-se. o corpo, miserável, continua a passar pelos dias, porque sabe que não tem outra escolha. mas a alma, que sabe que já foi tão mais feita de céu, não aceita, e cambaleia, faz o corpo tombar, faz os dias correrem solitários.

a música ao fundo é melancólia, companheira de horas mortas, e de tudo mais que o tempo já matou. a secura no olhar enerva-me tanto que já nem o espelho me aceita.

sinto as paredes contorcerem-se, como que a implorarem-me para sair daqui e ir viver a minha vida, finalmente.

pára de esconder o coração, pára.

pára de chorar em silêncio, pára.

sinto o chão rodopiar, anseio pelo desmaio que não chega...porque este rodopio tornou-se o habitual, face ao caminho que antes era certeiro.

estou rodeada de memórias e não posso deixar que elas me sufoquem, porque eu sei que elas já me esqueceram.

e é por isto; é por isto que não consigo escrever.

porque estou demasiado preenchida de tanto que me faz mal, que não consigo preencher-me de nada que me faça bem.

tenho um exame quinta feira, são três da manhã, estou a ouvir Brandi Carlile e tenho um pacote de bolachas e uma caneca de leite em cima da secretária. os apontamentos estão espalhados em cima da cama, já estive a ler textos antigos, tenho algumas janelas de msn abertas e estou agora neste preciso momento a fitar o meu bilhete para o concerto do Bublé. vai ser uma longa noite.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

I could really use a wish right now

estás a ouvir-me chamar por ti?
eu sei que custa ler-me. sou um livro aberto, mas escrito de trás pra frente e de pernas para o ar, história onde é preciso saltar umas páginas para seguir o raciocinio tresloucado, fio condutor da alma. sou estranha, sempre mo disseram e eu sempre encarei isso como um elogio, no fundo, por que a arrogância de querer ser diferente sempre me correu nas veias. tenho saudades da inocência, do tempo em que as coisas eram fáceis porque não as víamos complicadas, porque lutavamos para as ter, sem pensarmos o quão dificil seria se perdessemos.
tenho saudades de conseguir ser sincera, sem me esconder atrás de três projecções do corpo que agora carrego como um escudo protector, e tenho ainda mais saudades do tempo em que era transparente... e em que, apesar de complicada, entrava numa sala e clamava 'eu sou assim'.
mas consegues ouvir-me ou não?
não consegues. o tempo faz sempre questão de correr mais depressa do que desejamos, ou mais devagar do que nos convem. apesar de ter aprendido muitos truques para que nenhuma bala atravessasse este corpo-escudo, nunca consegui aprender o truque de enganar o tempo. de o fazer passar mais rápido para que também a dor passasse mais rápido. de o fazer passar sem que me apercebesse, para que também não te apercebesse.
nunca pensei que custasse descolar um corpo do meu, se no fundo era só um corpo.
acho que já não estava habituada a percorrer-me no escuro e então acabei por me perder, porque deixei o mapa no armário, escondido, para que mais ninguém tentasse essa ousadia de percorrer esta pessoa, tão estranha.
quis tanto esconder de ti o caminho, que eu própria me perdi nele.
não me consegues ouvir, porque no fundo eu sei que não estou a chamar por ti.
mas queria. queria tanto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

antes de sair de casa....

ando vazia. o corpo estranha já não transbordar de tudo o que o fazia viver, e arrasta-se pelos dias como se ao vê-los passar depressa, mais e melhor pudesse vir num outro futuro.
encontro nas paredes da casa onde habito o eco das memórias que me fizeram ser eu.
olho as fotografias e rio-me do que já fui, certa de que o era. agora não sei.
acho que isto de ter a idade começada por um dois me anda a dar cabo dos fusíveis.
mas como muito bem disseram, daqui a um mês já andamos a cheirar a faculdade e não há tempo para divagações. trabalhar, trabalhar, trabalhar.
é o último ano: ano de me licenciar, ano de tirar a carta, ano de encerrar o capítulo negro.
é o último ano de faculdade. e vai ser um óptimo ano, a começar já em setembro.
e ainda que faltem mais de nove meses, sei que vai ser a melhor queima das fitas de sempre. ah pois vai.
*

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

all you dreamers, keep dreaming

Filho de uma prostituta engessada, és um inútil como a tua mãe.
Raios te partam se alguma vez mais me vais pôr a vista em cima. Nem sei como fui capaz de ser cangalheira da tua alma durante tanto tempo, sempre a percorrer as mesmas estradas esburacadas e imundas, sempre a mendigar, sempre com fome de tudo mais que a vida tinha para me oferecer e eu não podia receber porque estava presa a ti.
Foi burrice, agora eu sei. Deixei-me invadir por essa molenguice que enfraquece o carácter e que as mulheres gostam de apelidar de amor; quando dei por mim acordava a pensar em ti quando não te tinha a meu lado, e adormecia a falar contigo mesmo se estivesses longe de mim. Isto, meu querido, é amor. E eu sabia, porque dependia de ti como uma miúda depende de sorrisos para acreditar que o mundo é um lugar melhor. Dependia do teu corpo para entrelaçar o meu, dependia da tua energia para aguentar os meus dias, dependia do teu olhar para ver as coisas de um modo diferente. Dependia de ti para ser alguém diferente, porque há muito tempo que estava farta de ser só eu, sempre sozinha, sempre distante, sempre calculista e desconfiada, sempre sem sonhos.
Tu vieste para me levantar os pés do chão e fazer-me acreditar que ainda era possível flutuar, mesmo já não acreditando em contos de fadas. Vieste não sei de onde, e é para aí que quero que voltes agora. Vai. Raios te partam, vai.
Preciso de existir sozinha, sem te ter a roubar-me pedaços de alma diariamente, como cubos de açúcar para adoçar o teu café.
Mas a verdade é que me fazes falta.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

if you are but a dream


Há todo um swing no movimento. A pele é arrastada ao de leve, com carinho, quando a mão toca na face, quando ele mergulha nos olhos dela. Ela chora, ele não percebe. Os homens nunca percebem porque é que as mulheres choram em momentos de suposta alegria.
É inverno e a cidade clama calor. Dentro das casas vive-se, enquanto nas ruas se respira a morte dos sentimentos. Ela já não sabe para onde foi o amor e é por isso que chora. Procurou-o incessantemente enquanto ele esteve fora, e agora que ele chegou... nada mais existe.
São ele e ela, nas ruas, na cidade, no frio. Ele seca-lhe as lágrimas com um beijo e, como sempre fazia, beija-lhe a testa em sinal de maximo respeito. Quem visse de longe quase, quase podia jurar que viveriam felizes para sempre. Quem visse de longe, nada sabia decerto.
Ela estava linda - ele podia jurar que ela estava linda; nada tinha mudado. O rosto, mudo, contava histórias do tempo em que ele tinha estado ausente. Reconhecia cada pedaço da mulher que tinha ficado para trás, porque ela não tinha de facto desaparecido.
O que ele não sabia, no entanto, é que além da mulher que amava, outras mulheres tinham surgido em seu corpo, concretizando as vontades estranhas que as mulheres têm de se contorcer em voltas e revoltas, donas e senhoras de várias almas por esculpir. No olhar, ele viu fogo após as lágrimas. Um fogo que não conhecia, porque não estava lá antes. Antes, quando ele estava. Antes, quando eles eram eles. Antes, quando quem visse de longe podia mesmo jurar que viveriam felizes para sempre.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

statement



Às vezes gostava que as coisas fossem fáceis o suficiente para perceberes o que te quero dizer sem ter de falar - é tao bom quando alguém nos consegue ler nas entrelinhas e nos consegue adivinhar por muito oposto que o seu caracter seja do nosso.
Há pessoas que nos conhecem demasiado bem, que quase adivinham quando precisamos de endireitar o nosso pensamento.

E sim, um primeiro amor nunca se esquece. E o passado encontra-nos sempre, quando mais precisamos avançar no tempo rumo a um novo futuro - nem que seja só para nos lembrar do que já foi, para que não se volte a repetir. Porque, no fundo, é assim que funciona o mundo.
[2008]

divagações 'do espaço'


O mundo é muito pequeno. Minto. É demasiado pequeno.

Atropelamo-nos nas nossas emoções em plena avenida, corroemo-nos por dentro com as divergências de passado e futuro, ecoamos incertezas de coincidências maltrapilhas.

O mundo é muito, muito pequeno, de facto.

E, pior do que ele ser pequeno, é quando nós ainda ajudamos para que ele encolha mais um pouco. Escravos das coincidências, gostamos que tudo tenha o doce sabor do indefinido. Nem que seja forçado.

'Que engraçado encontrar-te por aqui' é sinónimo de 'até que enfim que apareceste, tenho andado a rondar este sitio há semanas'. E 'que engraçado, também adoro essa música' seria o equivalente a dizer 'eu sabia que gostavas, por isso fui ouvir também...'.

Seria o sinónimo e equivalente se os seres humanos fossem sinceros - outro ponto fulcral.

Não somos. O flirt tem por base a máscara, que por sua vez tem por base todo um historial de mentirinhas (inocentes, claro) que contamos ao outro e que acabamos por contar a nós próprios.

E sim: as mulheres são exímias na arte do flirt.

Podem nunca ter praticado desporto na vida, mas se engraçarem com o surfista lá vão elas todas atléticas pôr-se em cima de uma prancha, só para o gostosão ensinar como se faz - note-se que isto tem piada nos primeiros encontros, depois toda a encenação de acordar as seis da manhã 'para apanhar as melhores ondas' deixa de valer a pena, por muito bom que seja o sexo.

Podem odiar comidas exóticas ou cinema independente, mas vão sorrir quando engolirem algas salteadas no chop soy ou quando virem o último filme do realizador francês que apenas um terço da população nacional conhece, tudo porque acham piada ao intelectualóide que é amigo da prima do amigo.

Os homens, apesar de mais preguiçosos, deixam-se manipular ao início, para nós pensarmos que eles de facto são manipuláveis. Depois, armados em macho latino, enchem o peito de ar e, poderosos, batem o pé face às circunstâncias.

Resultado? Mulheres frustradas porque nenhum homem lhes preenche as medidas, com todas as suas esquisitices e hábitos inconcebíveis, e Homens que vêm nas mulheres bichos que falam porque adoram ouvir o som da sua voz, sem se importar com mais nada no mundo.

Mundo esse que é de facto muito muito pequeno. Minto. Demasiado pequeno.

É por isso que é preciso termos cuidado quando relembramos episódios antigos em voz alta, ou nos cruzamos com uma pessoa anteriormente importante na nossa vida - as paredes têm ouvidos, e além disso podem ter mãos, sorrisos, beijos, toques. E podem encontrar-nos, por muito que tentemos fugir - já que o mundo é de facto muito pequeno.